01. Afirmação de 1864

Infidelidade Disfarçada

Eu fui, então, levada de volta à Criação e foi me mostrado que a primeira semana, na qual Deus realizou a obra da criação em seis dias e descansou no sétimo dia, era igual a todas as outras. O próprio Deus, nos dias da criação e de Seu descanso, mensurou o primeiro ciclo semanal como um modelo para as semanas vindouras até o final dos tempos. “Estas são as gerações do céu e da Terra quando foram criados”. Deus nos deu um relato de sua obra no final de cada dia literal e cada dia da criação foi planejado por Ele, porque durante todos os dias ele criava ou produzia uma nova porção de Sua obra. No sétimo dia da primeira semana, Deus descansou de Sua obra, e então abençoou o dia do Seu descanso, e o pôs à parte para benefício do homem. O ciclo semanal dos sete dias literais, seis para o trabalho e o sétimo para o descanso, os quais têm sido preservados e confirmados através da história bíblica, deram origem aos grandes acontecimentos dos primeiros sete dias.

Quando Deus proferiu a sua lei com voz audível, do Monte Sinai, apresentou o Sábado dizendo: “Lembra-te do dia de Sábado para o santificar”. Declarou, então, definitivamente o que deveria ser feito nos seis dias, e o que não deveria ser feito no sétimo. Ele, ao dar orientações de como observar a semana, levou-os de volta ao Seu exemplo, nos primeiros sete dias da criação. “Porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de Sábado e o santificou”. Esta razão parece bonita e eficaz quando entendemos que os registros da criação significam dias literais. Os primeiros seis dias de cada semana foram dados para o trabalho do homem, porque Deus empregou o mesmo período de tempo na primeira semana da obra da criação. O sétimo dia, Deus separou como um dia de descanso para perpetuar o seu descanso durante o mesmo período de tempo, após a realização da obra criadora em seis dias.

Mas a suposição incrédula de que para a realização dos acontecimentos da primeira semana foram necessários sete períodos longos e indefinidos, chocasse diretamente contra o fundamento do Sábado do quarto mandamento. O que Deus deixou muito claro é posto em dúvida, tornando-se indefinido e obscuro; este é o pior tipo de incredulidade e entre muitos que professam acreditar nos relatos da criação, é infidelidade disfarçada. Isto acusa a Deus de ter ordenado à humanidade a observar a semana de sete dias literais em comemoração a sete períodos indefinidos, o que não condiz com Sua forma de relacionar-se com os seres humanos e é uma afronta a Sua sabedoria.

Geólogos céticos declaram que o mundo é muitíssimo mais antigo do que ensina o registro bíblico. Eles rejeitam o relato bíblico por causa de coisas, que são para eles evidências tiradas da própria Terra, de que o mundo existe há dezenas de milhares de anos. E muitos que professam crer no relato bíblico não sabem o que dizer para explicar as coisas maravilhosas que são encontradas na Terra, a partir da visão de que a semana da criação foi de apenas sete dias literais, e que o mundo possui agora somente seis mil anos. Estes, para se livrarem das dificuldades colocadas diante deles por geólogos céticos, adotam a opinião de que os seis dias da criação foram períodos vastos, indefinidos e que o dia de descanso de Deus foi outro período indeterminado, tornando sem sentido o quarto mandamento da santa lei de Deus. Alguns avidamente aceitam esta posição, porque ela destrói a força do quarto mandamento, fazendo-os sentirem-se livres da responsabilidade que recai sobre eles. Os mesmos têm ideias limitadas sobre o tamanho dos homens, animais e árvores antediluvianos e das grandes mudanças que tomaram lugar na Terra.

Ossos de homens e animais foram encontrados nas montanhas e vales e mostram que homens e animais muito maiores viveram sobre a Terra. Foi me mostrado que animais enormes e poderosos existiram antes do dilúvio e hoje não existem mais. Algumas vezes, instrumentos de guerra e árvores petrificadas são encontrados. Pelo fato de os ossos dos seres humanos e dos animais encontrados na Terra serem superiores aos dos homens e animais de hoje, ou daqueles que viveram em muitas gerações passadas, alguns concluem que o mundo é mais antigo do que consta qualquer relato bíblico, que foi povoado muito tempo antes dos registros da criação por uma raça de seres humanos muito superiores em tamanho aos homens que hoje vivem sobre a Terra.

Foi me mostrado que sem a história bíblica, a Geologia não pode provar nada. Relíquias encontradas na Terra dão prova de condições que em muitos aspectos diferiam do presente; mas o tempo em que essas condições existiram na Terra apenas pode ser descoberto pela História Bíblica. Pode parecer inocente conjeturar além dos relatos bíblicos, uma vez que nossas suposições não contradizem os fatos encontrados nas Sagradas Escrituras. Mas quando os homens deixam a Palavra de Deus com respeito à história da criação, e buscam analisar a obra criadora através de princípios naturais, colocam-se num oceano de incertezas, sem limites. Deus nunca revelou aos mortais exatamente como concluiu a obra da criação em seis dias literais. As obras da criação são tão incompreensíveis quanto à Sua existência.

“Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável.”

“Aquele que fez grandes coisas, descobertas; e ainda faz maravilhosas inumeráveis.”

“Aquele que faz grandes e indescritíveis coisas; maravilhosas coisas incontáveis.”

“Deus troveja maravilhosamente com Sua voz. Grandes coisas Ele faz que não podem ser compreendidas.” — ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?”

A Palavra de Deus é-nos dada como lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho. Aqueles que a deixam de lado e procuram perscrutar os maravilhosos mistérios de Jeová segundo as suas próprias filosofias cegas, tropeçarão em trevas. Um guia foi dado aos mortais através do qual podem entender Deus e Suas obras, tanto quanto necessitarem. A Inspiração, ao nos apresentar a história do dilúvio, explicou mistérios grandiosos que a Geologia, independente da Inspiração, nunca o faria.

É obra especial de Satanás levar o homem caído a se rebelar contra o governo de Deus, e ele tem sido bem sucedido em seus esforços. Ele tem tentado obscurecer a lei de Deus, que é, em si mesma, muito clara, e manifestado um ódio especial contra o quarto preceito do decálogo, porque este define o Deus vivo, o Criador dos céus e da Terra. Os preceitos mais retos de Jeová são distorcidos, cedendo lugar a fábulas incrédulas.

O homem será deixado sem desculpa, pois se ele deseja crer, Deus deixou evidência suficiente sobre a qual sustentar a fé. Nos últimos dias, a Terra será quase destituída de fé verdadeira. Sobre a mais simples pretensão, a Palavra de Deus será considerada sem confiabilidade, enquanto que o raciocínio humano será aceito, embora esteja em oposição aos fatos claros da Escritura. Os homens se esforçarão para explicar por meio de causas naturais a obra da criação, a qual Deus nunca revelou. Mas, a ciência humana não poderá desvendar os segredos do Deus do céu e explicar as obras estupendas da criação que foram um milagre do poder do Onipotente, tampouco revelar como Deus veio à existência.

“As coisas não reveladas pertencem ao Senhor nosso Deus; mas as reveladas pertencem a nós e a nossos filhos para sempre.” Homens que professam ser ministros de Deus, erguem suas vozes contra a investigação da profecia, apregoando às pessoas que as profecias, especialmente as de Daniel e João, são obscuras e que não podemos entendê-las. Mas, alguns desses mesmos homens que se opõem à investigação da profecia por ser obscura, avidamente aceitam as especulações de geólogos que contestam os registros mosaicos. Mas, se a vontade revelada de Deus é tão difícil de ser compreendida, certamente os homens não deveriam apoiar sua fé em meras especulações com respeito àquilo que Deus não revelou. Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos, nem os Seus pensamentos são os nossos pensamentos. A ciência humana nunca poderá explicar Suas obras maravilhosas. Deus fez com que homens, animais e árvores, muitas vezes maiores do que os que estão hoje sobre a Terra, e outras coisas fossem enterradas por ocasião do dilúvio, e lá permanecessem como prova ao homem de que os habitantes do antigo mundo pereceram num dilúvio. Deus desejava que a descoberta destas coisas na Terra fortalecesse a fé da humanidade na história inspirada. Todavia, o homem com seu vão raciocínio, fez mau uso das evidências providas por Deus para exaltá-Lo, incorrendo no mesmo erro que os antediluvianos as coisas que Deus deu a eles como benefício, transformaram-nas em maldição, ao fazerem mau uso delas. 3SG, págs. 90-96 (Reimpresso em ST, 20 de março de 1879 e 4SP págs. 85-89).

 

Prefácio (3SG IH-IV) Battle Creek, Julho, 1896.

Ao apresentar este meu terceiro volume ao público estou confortada com a convicção de que o Senhor tem feito de mim um humilde instrumento ao lançar raios da preciosa luz sobre o passado. Os relatos sagrados que falam sobre os santos homens da antiguidade são breves. A Inspiração diz pouco sobre os feitos nobres e as vidas santas de fiéis. Por exemplo, a vida do justo Enoque é resumida nestas palavras: “E Enoque andou com Deus, e já não estava mais na Terra, porque Deus o tomou para Si”.

Por outro lado, os erros, pecados e a vil apostasia de alguns, que foram consagrados e favorecidos servos de Deus, encontram-se em abundância na Sagrada História como uma advertência para as gerações vindouras.

A infidelidade tem se aproveitado da triste história da apostasia, que ocupa um grande espaço no Velho Testamento e tem enganado muitos com a vil insinuação de que os homens da Bíblia, sem exceção, foram maus, afirmando até mesmo, de forma blasfema, que as Escrituras Sagradas sancionam o crime.

Uma vez que os grandes acontecimentos da fé, relacionados à história de homens santos do passado, foram-me mostrados em visão e também o importante fato de que Deus, em momento algum, deixou de considerar o pecado da apostasia, tenho mais do que nunca me convencido de que a ignorância quanto a estes fatos, e a astuciosa vantagem tirada dessa ignorância por alguns que têm mais conhecimento, são as grandes defesas dos incrédulos. Se o que escrevo sobre estes pontos puderem ajudar alguma mente, que Deus seja louvado.

Quando comecei a escrever, esperava trazer tudo neste volume. Fui, entretanto, forçada a encerrar a história dos hebreus e a considerar os acontecimentos relacionados a Saul, Davi, Salomão, e a outros, e também a tratar de assuntos sobre Saúde em outro volume.

E. G. W.
BATTLE CREEK, Julho de 1864.

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Ibid., p. [iii], iv.